Ciência, Tecnologia e
Sociedade – A Diabetes
Um grupo de
alunos do 9.ºA do AEPAN, cuja curiosidade foi aguçada por um trabalho de
pesquisa da disciplina de Ciências Naturais, orientado pela Professora Rita
Meireles;quis aprofundar mais a temática do diagnóstico e tratamento (avanços
tecnológicos) da diabetes e disponibilizar essa informaçãoà comunidade
educativa... Mais informados estamos mais preparados e solidários...
Alunos Curiosos 9.º A -Podem dividir connosco como foi o seu momento do
diagnóstico da diabetes (Quando e como descobriram que tinham diabetes?)?
Sr.ª Prof. Fátima Pinho - Descobri quando fui ao médico de família e lhe
mostrei umas análises.
Aluna AEPAN - Quando descobriram que tinha diabetes tinha eu 1
ano e meio. Quando me detetaram já não estava nas melhores condições, já estava
e entrar em coma, devido a um erro de uma médica que não me detetou logo e não
avaliou como devia de ser. Se detetasse, as coisas não chegavam ao ponto que
chegaram. Eu era pequena por isso não tenho memória, sei disto porque os meus
pais me contaram.
A.C. 9.º A - Que sintomatologia /alterações levaram à suspeita da
doença?
Sr.ª Prof. F. P. - Nunca suspeitei que fosse diabetes. Na altura,
estava na Faculdade e quando fui realizar um exame para o qual tinha estudado
bastante, deu-me uma branca total. Entrei em pânico e pensei que fosse algum
esgotamento. Fui ao médico e ele mandou-me fazer análises.
Aluna AEPAN - Bem, a sintomatologia que tinha era a seguinte: eu
de um momento para o outro emagreci muito e comecei a beber muita água, estava
muito parada o dia inteiro e não brincava, o que não é normal numa criança
saudável, isto sei porque a minha mãe me contou
A.C. 9.º A - Qual foi a vossa reação ao descobrirem que sofriam
de diabetes?
Sr.ª Prof. F. P. - A minha reação foi muito má, chorei durante uma
semana. Depois aceitei e pensei que há pessoas que têm, infelizmente, doenças
piores.
Aluna AEPAN - Bem, eu já tenho esta doença desde pequenina, então
não foi tão difícil. Como já referi na 1.ª pergunta, não me lembro muito bem
das coisas dado ser pequena. Como eu era pequenina não tinha muita noção das
coisas, via a minha mãe a medir-me a glicemia todos os dias e várias vezes, mas
não entendia porque me faziam aquilo. Quando comecei a entender as coisas não
reagi mal dado que estava no meu dia a dia, quando fiquei mais crescida, lá
para os meus 3 anos já começava a questionar e a perguntar “porque é que eu
faço e os meus amigos não?”. No meu ponto de vista, acho que até foi melhor ter
com aquela idade, porque se fosse agora acho que me custava mais e não iria
reagir lá muito bem, então como sou desde pequena reagi bem.
A.C. 9.º A - Usamalguma tecnologia/dispositivo no tratamento
quotidiano desta patologia?
a.
Se sim, qual(ais)?
Sr.ª
Prof. F. P. - Uso o sensor de
glicémia.
Aluna
AEPAN – Sim, uso dois
diapositivos novos um acabado de ser lançado recentemente, utilizo a bomba
infusora e os sensores.
b.
Há quanto tempo?
Sr.ª
Prof. F. P. - Há 4 anos.
Aluna AEPAN - A bomba infusora há 2 anos e os sensores há 4 anos.
c.
Reconhecem vantagens no seu uso?
Sr.ª
Prof. F. P. - Sim.
Aluna AEPAN - Sim, as vantagens da bomba infusora são que já não
ando sempre a injetar-me e tenho uma melhor perceção da minha diabetes, já não
tenho tantas hipoglicemias (os valores da glicose baixos). O sensor também é
bom, porque já não tenho que andar sempre a picar os dedos e chega a ser
desgastante para os dedos, falando em uma linguagem mais simples, vamos a ver
são 17 anos a sofrer com as agulhas nos dedos, às vezes tinha momentos que
doía, agora facilita mais.
d.
E desvantagens?
Sr.ª
Prof. F. P. - Ter de
substituí-lo de 14 em 14 dias.
Aluna
AEPAN - As desvantagens
são poucas o sensor não dá muito bem as leituras corretas, dando uma mínima
margem mais alto ou mais baixo, a bomba infusora não me deteta as tais
hipoglicemias (os valores baixos) e as vezes ganho infeção no cateter ou às
vezes acontece arranca-lo de noite, mas se for a comparar as desvantagens ao
que sofria antes acho que são maiores as vantagens.
e.
Podem desenvolver/esclarecer um pouco o que é e para
que serve esta tecnologia médica?
Sr.ª
Prof. F. P. - É um pequeno
sensor que coloco no braço e que substituo a cada 14 dias. Este permite-me fazer
uma leitura rápida dos níveis de glicose.
Aluna AEPAN - Estas tecnologias médicas servem para nós termos
melhor acompanhamento da nossa glicose e assim andar sempre mais controlada e
os médicos terem melhor perceção como estamos. Dado que agora funciona tudo
através de Bluetooth, assim este novo método ajudou-nos e com a pandemia nós
não íamos ao hospital estas formas ajudaram-nos imenso, estas tecnologias só
nos facilitam.
f.
Têm conhecimento de outros dispositivos associados à
diabetes aos quais gostariam de ter acesso? Qual(ais)? Porquê?
Sr.ª
Prof. F. P. - Sim,a bomba de
insulina. Esta seria uma alternativa às 6 injeções de insulina que dou
diariamente. Pelo que tenho ouvido é mais confortável e o controlo glicémico é
mais rigoroso.
Aluna
AEPAN - Não por acaso
não, mas se se conhece, claro que gostaria de experimentar desde que seja para
eu melhorar e para me facilitar a vida, estou sempre disposta a experimentar e
a testar.
A.C. 9.º A - Sentem-se confortáveis a usar os dispositivos em
público?
Sr.ª Prof. F. P. - Sim, não tenho razões para esconder a minha doença.
Pelo contrário, é importante que outros tenham conhecimento pois a qualquer
momento posso precisar de ajuda se em algum momento perder a consciência por
uma alteração muito rápida dos níveis de açúcar no sangue.
Aluna AEPAN - Tocaram no meu ponto fraco, não gosto de falar e
nem me sinto confortável.
A.C. 9.º A - Para além do uso dos dispositivos referidos,que
cuidados e rotinas têm, para controlar a diabetes?
Sr.ª Prof. F. P. - Faço o controlo da alimentação e, sempre que
possível respeito os horários das refeições principais; não ultrapasso as 3h
sem ingestão de alimentos; respeito os horários da toma de insulina; vigio se
existe alguma alteração nos pés; faço o controlo do peso e realizo algum
exercício físico.
Aluna AEPAN - Cuidados não são muitos. Desde que tenho os
diabetes há 17 anos sempre tive uma alimentação saudável, faço caminhadas para
me ajudar na glicose e porque o desporto faz bem aos diabetes como a qualquer
outro problema de saúde, como tenho já há bastante tempo não tive que fazer
alterações na minha rotina por isso não foi difícil para mim. No entanto, há
que ter bastantes cuidados se queremos ter uma diabetes controlada, é preciso
esforço e dedicação.
A.C. 9.º A - E em relação ao vosso quotidiano e alimentação,
tiveram que fazer alterações para conviver com a doença?
Sr.ª Prof. F. P. - Sim, deixar, por exemplo, de comer alimentos
açucarados, refrigerantes e diminuir os hidratos de carbono, principalmente o
pão. Respeitar os horários da alimentação.
Aluna AEPAN - Como eu sou diabética desde pequenina não tive que
fazer nenhuma modificação na minha alimentação pelo contrário tenho uma boa
alimentação desde pequena, por isso não me custa.
A.C. 9.º A - Sentem alguma limitação por ter diabetes?
Sr.ª Prof. F. P. - Neste momento, passados 18 anos, não.
Aluna AEPAN - Sim, tenho algumas limitações, mas não quer dizer
que deixe de fazer, apenas tenho te ter um cuidado redobrado para que não me
sinta mal. Posso dar-vos um exemplo, sou Bombeira e não é por ter diabetes que
vou deixar de ser. Como referi em cima é preciso ter cuidado e alimentar-me
mais vezes para que tudo corra bem.
A.C. 9.º A - Têmm vergonha de ter esta doença? Se não, já tiveram?
Sr.ª Prof. F. P. Não, nunca tive.
Aluna AEPAN - Sim, tenho vergonha e é um assunto que me custa
falar. Raramente falo com as pessoas, tento que as pessoas não saibam do meu
problema.
A.C. 9.º A - Antes de serem diagnosticadas já tinham conhecimento
aprofundado sobre esta doença e sobre os seus riscos?
Sr.ª Prof. F. P. - Sim, porque tenho familiares diretos com a doença.
Aluna AEPAN - Como eu era pequena e não tinha noção do risco, mas
ao longo do meu crescimento fui aprendendo.
A.C. 9.º A - Já tiveram complicações associadas à diabetes?
Sr.ª Prof. F. P. - Sim,já me afetou os nervos sensitivos dos pés e os
olhos.
Aluna AEPAN - Não, graças a Deus e espero não ter porque ninguém
quer sofrer mais que o que já sofremos ainda sou muito nova, mas o facto de ser
nova não interessa eu já tenho esta doença há muitos anos, os meus órgãos podem
ficar cansados.
A.C. 9.º A - Alguma coisa as preocupa/assusta em relação a esta
doença?
Sr.ª Prof. F. P. - Sim,precisar de fazer hemodiálise e os derrames que
já tenho na retina evoluírem.
Aluna AEPAN - Sim, o facto de vir a sofrer algum problema nos
rins, penso muito nisso, então prefiro não pensar muito sobre isso e controlar
a diabetes para não ter nenhuma complicação.
A.C. 9.º A - Que pensamentos/sentimentos acham que teriam se
fosse diagnosticada diabetes a um dos vossos filhos?
Sr.ª Prof. F. P. - Há uns anos atrás, diria que me sentiria culpada.
Neste momento aceitaria, pois, a doença pode ser genética.
Aluna AEPAN - Não seria fácil. Eu às vezes penso nisso, às vezes
até penso em não ter filhos por causa disso, mas depois penso é uma doença como
as outras é só ter cuidado que tudo corre bem. O mais provável é o meu filho
herdar a minha doença, nenhum pai quer ver um filho sofrer, ou ter uma doença.
O que eu farei é explicar tudo bem explicado e simplificar-lhe as coisas para
lhe ser mais fácil, tendo-me a mim como exemplo.
A.C. 9.º A - Gostariam de transmitir alguma mensagem a uma pessoa
a quem acaba de ser diagnosticada a diabetes?
Sr.ª Prof. F. P. - Que no início é sempre difícil lidar com uma doença crónica,
mas com um controlo diário eficiente consegue-se ter uma vida sem muitas
limitações.
Aluna AEPAN - A mensagem que transmito é não ligar às pessoas que
não sabem o que dizem, porque isso não te vai ajudar, vai é prejudicar-te, ter
cuidado com a alimentação e controlar e fazer as coisas direitinhas, se
cumprires com as recomendações corre tudo bem e não escondas o problema que
tens. Diz às pessoas à tua volta, caso te sintas mal, as pessoas que estão à
tua volta podem ajudar-te o mais rápido possível evitando complicações graves
como por exemplo coma hipoglicémico.
A.C. 9.º A - E a uma mãe a quem o filho acaba de ser
diagnosticado com diabetes?
Sr.ª Prof. F. P. - Que é importante saber que esta doença tem que ter
cuidados diários, como o cumprimento dos horários da alimentação e da
medicação, bem como uma rotina de exercícios orientando-o para os mesmos. E,
claro, muito amor, carinho, presença e apoio constante.
Aluna AEPAN - Ficaria triste, mas eu iria fazer de tudo para que
o meu filho se sentisse bem com ele mesmo ajudá-lo em tudo e lutarmos os dois
nessa batalha. Nunca estaríamos sozinhos. Sei que não é fácil ele compreender a
doença e as perguntas todas que me irá colocar, mas com o tempo ele irá
compreender e cada dia que passe vai se tornar mais fácil e vai conseguir
superar.
A.C. 9.º A - Relativamente a esta temática, querem partilhar mais alguma coisa? Ficou algo por dizer?
Sr.ª Prof. F. P. Gostaria de reforçar que sendo esta uma doença
silenciosa é importante que todos estejam atentos aos sinais, como por exemplo,
idas frequentes à casa de banho, sede constante, aumento de apetite e perda de
peso, de modo a identificar precocemente e evitar futuras complicações.
Aluna AEPAN - O que posso partilhar é que tenham cuidado com a
alimentação, pratiquem desporto, levem uma vida saudável, porque a qualquer
momento podemos ficar com a doença. Eu digo muitas vezes “HOJE SOU EU AMANHÃ
PODES SER TU”. Não gozem com as pessoas que têm este problema, porque já não é
fácil falar, então ter pessoas a fazerem comentários estúpidos torna, mais
difícil e leva-nos a resguardarmo-nos e a não falarmos.
A.C. 9.º A - MUITO
OBRIGADO, pela enorme generosidade da partilha…
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