3 de julho de 2021

Ciências, Tecnologia e Sociedade - A Diabetes

 

Ciência, Tecnologia e Sociedade – A Diabetes

 

Um grupo de alunos do 9.ºA do AEPAN, cuja curiosidade foi aguçada por um trabalho de pesquisa da disciplina de Ciências Naturais, orientado pela Professora Rita Meireles;quis aprofundar mais a temática do diagnóstico e tratamento (avanços tecnológicos) da diabetes e disponibilizar essa informaçãoà comunidade educativa... Mais informados estamos mais preparados e solidários...

 

Alunos Curiosos 9.º A -Podem dividir connosco como foi o seu momento do diagnóstico da diabetes (Quando e como descobriram que tinham diabetes?)?

Sr.ª Prof. Fátima Pinho - Descobri quando fui ao médico de família e lhe mostrei umas análises.

Aluna AEPAN - Quando descobriram que tinha diabetes tinha eu 1 ano e meio. Quando me detetaram já não estava nas melhores condições, já estava e entrar em coma, devido a um erro de uma médica que não me detetou logo e não avaliou como devia de ser. Se detetasse, as coisas não chegavam ao ponto que chegaram. Eu era pequena por isso não tenho memória, sei disto porque os meus pais me contaram.

 

A.C. 9.º A - Que sintomatologia /alterações levaram à suspeita da doença?

Sr.ª Prof. F. P. - Nunca suspeitei que fosse diabetes. Na altura, estava na Faculdade e quando fui realizar um exame para o qual tinha estudado bastante, deu-me uma branca total. Entrei em pânico e pensei que fosse algum esgotamento. Fui ao médico e ele mandou-me fazer análises.

Aluna AEPAN - Bem, a sintomatologia que tinha era a seguinte: eu de um momento para o outro emagreci muito e comecei a beber muita água, estava muito parada o dia inteiro e não brincava, o que não é normal numa criança saudável, isto sei porque a minha mãe me contou

 

A.C. 9.º A - Qual foi a vossa reação ao descobrirem que sofriam de diabetes?

Sr.ª Prof. F. P. - A minha reação foi muito má, chorei durante uma semana. Depois aceitei e pensei que há pessoas que têm, infelizmente, doenças piores.

Aluna AEPAN - Bem, eu já tenho esta doença desde pequenina, então não foi tão difícil. Como já referi na 1.ª pergunta, não me lembro muito bem das coisas dado ser pequena. Como eu era pequenina não tinha muita noção das coisas, via a minha mãe a medir-me a glicemia todos os dias e várias vezes, mas não entendia porque me faziam aquilo. Quando comecei a entender as coisas não reagi mal dado que estava no meu dia a dia, quando fiquei mais crescida, lá para os meus 3 anos já começava a questionar e a perguntar “porque é que eu faço e os meus amigos não?”. No meu ponto de vista, acho que até foi melhor ter com aquela idade, porque se fosse agora acho que me custava mais e não iria reagir lá muito bem, então como sou desde pequena reagi bem.

 

A.C. 9.º A - Usamalguma tecnologia/dispositivo no tratamento quotidiano desta patologia?

a.       Se sim, qual(ais)?

Sr.ª Prof. F. P. - Uso o sensor de glicémia.

Aluna AEPAN – Sim, uso dois diapositivos novos um acabado de ser lançado recentemente, utilizo a bomba infusora e os sensores.

b.       Há quanto tempo?

Sr.ª Prof. F. P. - Há 4 anos.

Aluna AEPAN - A bomba infusora há 2 anos e os sensores há 4 anos.

 

c.        Reconhecem vantagens no seu uso?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim.

Aluna AEPAN - Sim, as vantagens da bomba infusora são que já não ando sempre a injetar-me e tenho uma melhor perceção da minha diabetes, já não tenho tantas hipoglicemias (os valores da glicose baixos). O sensor também é bom, porque já não tenho que andar sempre a picar os dedos e chega a ser desgastante para os dedos, falando em uma linguagem mais simples, vamos a ver são 17 anos a sofrer com as agulhas nos dedos, às vezes tinha momentos que doía, agora facilita mais.

 

d.       E desvantagens?

Sr.ª Prof. F. P. - Ter de substituí-lo de 14 em 14 dias.

Aluna AEPAN - As desvantagens são poucas o sensor não dá muito bem as leituras corretas, dando uma mínima margem mais alto ou mais baixo, a bomba infusora não me deteta as tais hipoglicemias (os valores baixos) e as vezes ganho infeção no cateter ou às vezes acontece arranca-lo de noite, mas se for a comparar as desvantagens ao que sofria antes acho que são maiores as vantagens.

e.        Podem desenvolver/esclarecer um pouco o que é e para que serve esta tecnologia médica?

Sr.ª Prof. F. P. - É um pequeno sensor que coloco no braço e que substituo a cada 14 dias. Este permite-me fazer uma leitura rápida dos níveis de glicose.

Aluna AEPAN - Estas tecnologias médicas servem para nós termos melhor acompanhamento da nossa glicose e assim andar sempre mais controlada e os médicos terem melhor perceção como estamos. Dado que agora funciona tudo através de Bluetooth, assim este novo método ajudou-nos e com a pandemia nós não íamos ao hospital estas formas ajudaram-nos imenso, estas tecnologias só nos facilitam.

 

f.        Têm conhecimento de outros dispositivos associados à diabetes aos quais gostariam de ter acesso? Qual(ais)? Porquê?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim,a bomba de insulina. Esta seria uma alternativa às 6 injeções de insulina que dou diariamente. Pelo que tenho ouvido é mais confortável e o controlo glicémico é mais rigoroso.

Aluna AEPAN - Não por acaso não, mas se se conhece, claro que gostaria de experimentar desde que seja para eu melhorar e para me facilitar a vida, estou sempre disposta a experimentar e a testar.

 

A.C. 9.º A - Sentem-se confortáveis a usar os dispositivos em público?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim, não tenho razões para esconder a minha doença. Pelo contrário, é importante que outros tenham conhecimento pois a qualquer momento posso precisar de ajuda se em algum momento perder a consciência por uma alteração muito rápida dos níveis de açúcar no sangue.

Aluna AEPAN - Tocaram no meu ponto fraco, não gosto de falar e nem me sinto confortável.

A.C. 9.º A - Para além do uso dos dispositivos referidos,que cuidados e rotinas têm, para controlar a diabetes?

Sr.ª Prof. F. P. - Faço o controlo da alimentação e, sempre que possível respeito os horários das refeições principais; não ultrapasso as 3h sem ingestão de alimentos; respeito os horários da toma de insulina; vigio se existe alguma alteração nos pés; faço o controlo do peso e realizo algum exercício físico.

Aluna AEPAN - Cuidados não são muitos. Desde que tenho os diabetes há 17 anos sempre tive uma alimentação saudável, faço caminhadas para me ajudar na glicose e porque o desporto faz bem aos diabetes como a qualquer outro problema de saúde, como tenho já há bastante tempo não tive que fazer alterações na minha rotina por isso não foi difícil para mim. No entanto, há que ter bastantes cuidados se queremos ter uma diabetes controlada, é preciso esforço e dedicação.

 

A.C. 9.º A - E em relação ao vosso quotidiano e alimentação, tiveram que fazer alterações para conviver com a doença?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim, deixar, por exemplo, de comer alimentos açucarados, refrigerantes e diminuir os hidratos de carbono, principalmente o pão. Respeitar os horários da alimentação.

Aluna AEPAN - Como eu sou diabética desde pequenina não tive que fazer nenhuma modificação na minha alimentação pelo contrário tenho uma boa alimentação desde pequena, por isso não me custa.

 

A.C. 9.º A - Sentem alguma limitação por ter diabetes?

Sr.ª Prof. F. P. - Neste momento, passados 18 anos, não.

Aluna AEPAN - Sim, tenho algumas limitações, mas não quer dizer que deixe de fazer, apenas tenho te ter um cuidado redobrado para que não me sinta mal. Posso dar-vos um exemplo, sou Bombeira e não é por ter diabetes que vou deixar de ser. Como referi em cima é preciso ter cuidado e alimentar-me mais vezes para que tudo corra bem.

 

A.C. 9.º A - Têmm vergonha de ter esta doença? Se não, já tiveram?

Sr.ª Prof. F. P. Não, nunca tive.

Aluna AEPAN - Sim, tenho vergonha e é um assunto que me custa falar. Raramente falo com as pessoas, tento que as pessoas não saibam do meu problema.

 

A.C. 9.º A - Antes de serem diagnosticadas já tinham conhecimento aprofundado sobre esta doença e sobre os seus riscos?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim, porque tenho familiares diretos com a doença.

Aluna AEPAN - Como eu era pequena e não tinha noção do risco, mas ao longo do meu crescimento fui aprendendo.

 

A.C. 9.º A - Já tiveram complicações associadas à diabetes?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim,já me afetou os nervos sensitivos dos pés e os olhos.

Aluna AEPAN - Não, graças a Deus e espero não ter porque ninguém quer sofrer mais que o que já sofremos ainda sou muito nova, mas o facto de ser nova não interessa eu já tenho esta doença há muitos anos, os meus órgãos podem ficar cansados.

 

A.C. 9.º A - Alguma coisa as preocupa/assusta em relação a esta doença?

Sr.ª Prof. F. P. - Sim,precisar de fazer hemodiálise e os derrames que já tenho na retina evoluírem.

Aluna AEPAN - Sim, o facto de vir a sofrer algum problema nos rins, penso muito nisso, então prefiro não pensar muito sobre isso e controlar a diabetes para não ter nenhuma complicação.

 

A.C. 9.º A - Que pensamentos/sentimentos acham que teriam se fosse diagnosticada diabetes a um dos vossos filhos?

Sr.ª Prof. F. P. - Há uns anos atrás, diria que me sentiria culpada. Neste momento aceitaria, pois, a doença pode ser genética.

Aluna AEPAN - Não seria fácil. Eu às vezes penso nisso, às vezes até penso em não ter filhos por causa disso, mas depois penso é uma doença como as outras é só ter cuidado que tudo corre bem. O mais provável é o meu filho herdar a minha doença, nenhum pai quer ver um filho sofrer, ou ter uma doença. O que eu farei é explicar tudo bem explicado e simplificar-lhe as coisas para lhe ser mais fácil, tendo-me a mim como exemplo.

A.C. 9.º A - Gostariam de transmitir alguma mensagem a uma pessoa a quem acaba de ser diagnosticada a diabetes?

Sr.ª Prof. F. P. - Que no início é sempre difícil lidar com uma doença crónica, mas com um controlo diário eficiente consegue-se ter uma vida sem muitas limitações.

Aluna AEPAN - A mensagem que transmito é não ligar às pessoas que não sabem o que dizem, porque isso não te vai ajudar, vai é prejudicar-te, ter cuidado com a alimentação e controlar e fazer as coisas direitinhas, se cumprires com as recomendações corre tudo bem e não escondas o problema que tens. Diz às pessoas à tua volta, caso te sintas mal, as pessoas que estão à tua volta podem ajudar-te o mais rápido possível evitando complicações graves como por exemplo coma hipoglicémico.

 

A.C. 9.º A - E a uma mãe a quem o filho acaba de ser diagnosticado com diabetes?

Sr.ª Prof. F. P. - Que é importante saber que esta doença tem que ter cuidados diários, como o cumprimento dos horários da alimentação e da medicação, bem como uma rotina de exercícios orientando-o para os mesmos. E, claro, muito amor, carinho, presença e apoio constante.

Aluna AEPAN - Ficaria triste, mas eu iria fazer de tudo para que o meu filho se sentisse bem com ele mesmo ajudá-lo em tudo e lutarmos os dois nessa batalha. Nunca estaríamos sozinhos. Sei que não é fácil ele compreender a doença e as perguntas todas que me irá colocar, mas com o tempo ele irá compreender e cada dia que passe vai se tornar mais fácil e vai conseguir superar.

 

A.C. 9.º A - Relativamente a esta temática, querem partilhar mais alguma coisa? Ficou algo por dizer?

Sr.ª Prof. F. P. Gostaria de reforçar que sendo esta uma doença silenciosa é importante que todos estejam atentos aos sinais, como por exemplo, idas frequentes à casa de banho, sede constante, aumento de apetite e perda de peso, de modo a identificar precocemente e evitar futuras complicações.

Aluna AEPAN - O que posso partilhar é que tenham cuidado com a alimentação, pratiquem desporto, levem uma vida saudável, porque a qualquer momento podemos ficar com a doença. Eu digo muitas vezes “HOJE SOU EU AMANHÃ PODES SER TU”. Não gozem com as pessoas que têm este problema, porque já não é fácil falar, então ter pessoas a fazerem comentários estúpidos torna, mais difícil e leva-nos a resguardarmo-nos e a não falarmos.

A.C. 9.º A - MUITO OBRIGADO, pela enorme generosidade da partilha…

 


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